A prefeitura vem alegando que a Empresa de
Transporte Pública Carris vem dando prejuízo de cerca de 50 milhões por ano aos
cofres públicos, que isto não se justifica e quer vendê-la à iniciativa privada.
Um caminho demais simplificado para um
governo que se elegeu anunciando uma gestão moderna, eficaz e
desburocratizante. Já levou seis meses para estabilizar uma equipe à frente da
empresa, alongou de forma deletéria prazos para decidir sobre contratos de
manutenção da frota e reposição de peças. Optou pela suspeição e assédio sobre
os funcionários, revistas, falas públicas depreciativas, demissões por supostas
“justas causas” em número nunca antes ocorrido, numa clara intenção de redução
de quadro, resultando desastrosa a medida tanto pelo efeito negativo nos
trabalhadores quanto pela reversão na justiça. O número cada vez maior de
carros sem rodar, de perda de viagens e de passageiros só vem agravando a
crise. Proposital? Se não for, um enorme atestado de incompetência.
A Carris cumpre uma papel muito importante no
sistema de transporte, como instrumento do governante, na necessária regulação
pública. Diferente da empresa privada, seu lucro não vai para os acionários
proprietários e sim é reinvestido no sistema para inovar em qualidade e
extensão do serviço. Foi assim por anos: a implementação de ar condicionado, de
equipamentos e especificações de acessibilidade, de conforto sonoro e
ergométrico, de limpeza, de atendimento cordial e especializado ao usuário, de
criação de novas linhas como as transversais, de instituição do passe livre
para estudantes ou para projetos sociais específicos. Evidente que para se
manter o equilíbrio econômico com implementação desses custos novos, foi
preciso um modelo de gestão que investia permanentemente em planejamento
estratégico participativo, avaliação coletiva e periódica de desempenho por
regiões, de estímulo e qualificação do corpo técnico e dos/as trabalhadores/as
rodoviários/as.
O desequilíbrio deve corresponder a mudanças
externas do sistema como a redução de passageiros e segunda passagem gratuita,
mas há, no entanto, evidências de opções de gestão desencadeadoras do mesmo e
incapazes de ler a realidade e dar novas respostas. Vimos apresentando todas
essas evidências ao Ministério Público de Contas há alguns anos: investimento
em construção de prédio administrativo e de escola infantil inacabados e
abandonados, passando a parcelar compra de ônibus que antes era feita à vista. Aumento
abusivo de Cargos Comissionados – de livre nomeação do prefeito – muitos
incompetentes para função tão técnica, abandono da antecipação de reposição de
peças, troca de linhas com empresas privadas, com possível prejuízo, falta de
transparência no controle da Câmara de Compensação, na gestão e custos do plano
de saúde dos trabalhadores, assim por diante. Auditorias apontaram problemas e
outra está solicitada pelo MP de Contas. O novo governo assumiu conhecendo os
apontamentos e, pouco fez para superá-los.
Apesar disso tudo, ainda agora, a análise da
avaliação dos usuários nos sistemas da EPTC demonstra que é a empresa com menor
número de queixas e que menos atrasa e é mais elogiada! De onde isso?
Certamente do compromisso das trabalhadoras e trabalhadores, de seu empenho e
esforço para realizar o trabalho e mostrar que é uma empresa viável e
necessária!
Vender, se desfazer é muito fácil, para isso
não precisa prefeito, basta um síndico de massa falida! Difícil, mas urgente e
necessário, é mostrar seriedade e competência para garantir o direito de ir e
vir - para estudar, trabalhar ou passear - com tarifa e qualidade adequadas, de
milhares de cidadãos e cidadãs que tem direito à cidade!
*Vereadora e Líder da Bancada do PT na Câmara
de Porto Alegre
Novembro/2017
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