Artigo da vereadora
Sofia Cavedon publicado no jornal Correio
do Povo do dia 29 de abril de 2011.
Há quem diga que criar expectativas de solução para
situações complexas e há muito estabelecidas, é demagogia. Que se aproximar do
problema para sentir sua intensidade, solidarizar-se com os afetados e
sublinhar sua indignação, é oportunismo.
Mas, se olharmos a cidade e seus
problemas vamos ver que o distanciamento leva à simplificação e esta à
generalização que caba por atenuar os
efeitos, despersonalizar a dor, levar à
banalização da situação, absorção de patamares mais baixos de qualidade,
adaptação a situações penosas e insalubres, cujas consequências só em longo
prazo, ou de forma difusa, se pode identificar.
Vejamos o tema do transporte de
passageiros pelos ônibus urbanos: os relatos gerais são de superlotação e
atrasos. Aproximando-se da situação, aparece a “uma hora e vinte minutos de
circulação de pé, ônibus sacudindo, pessoas empurrando, se batendo”; os
arranques que desequilibram idosos e derrubam crianças; as esperas em paradas
expostas à poluição, ao frio, à chuva; os atrasos que resultam em perda de
períodos de aula, em apontamentos no trabalho. Aí aparecem os seres humanos
atingidos, não mais denúncias gerais e impessoais.
Assim é impacto das obras da COPA,
com a saída de milhares de famílias de
suas casas. De perto, se vê pessoas angustiadas, que querem ser ouvidas e
respeitadas, cujo direito à moradia é anterior e mais importante que cumprir o
calendário!
Os ciclistas eram invisíveis nas
ruas da cidade. Quando brutalmente atropelados, apareceram os jovens, as
famílias, a organização de tantos que resistem à avalanche da velocidade do
motor. Apareceu a falta de estímulo a este meio barato, sustentável e saudável
de deslocamento. Ao ouvir seus
depoimentos das hostilidades e agressões, enxergamos as deficiências dos
espaços, a falta de prioridade no investimento na circulação viária, de
informação e educação para que sejam respeitados. Ouvindo-os, percebemos a
urgência e as muitas alternativas que podem fazer da cidade um direito também
de quem opta pela bicicleta.
A intolerância e a agressividade, a
falta de cuidado e gentileza no tratar o outro na rua, no carro, nas filas, nos
ônibus; a indiferença e desrespeito com o que é público, com o que é comum são
evidências da deterioração de nossa condição de cidadãos e da vida na cidade. Talvez
seja resultado do distanciamento e falta de escuta verdadeira de quem faz as
leis e as políticas públicas daqueles que mais “sofrem” a cidade.
A participação direta do cidadão –
marca de Porto Alegre - precisa incidir, de fato, nos destinos da nossa cidade!
Só assim ela será de todos!
Verª Sofia Cavedon/PT
Presidente da Câmara Municipal de
Porto Alegre
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