segunda-feira, 7 de maio de 2018

Carta do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte em defesa do CETE

À Comissão de Educação da Câmara de Vereadores de Porto Alegre
A/C da Professora Sofia Cavedon

Senhores Vereadores.

Ao cumprimentar Vossas Senhorias, representando o Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE), vimos pela presente carta manifestar a preocupação de nossa sociedade científica sobre a proposição apresentada à Câmara de Vereadores pela Brigada Militar de transferir a sede do Corpo de Bombeiros para a área onde hoje está o Centro Estadual de Treinamento Esportivo (CETE). (cfe. Correio do Povo, 23/04/2018). Nesse sentido, expomos algumas considerações necessárias e a finalizamos manifestando-nos contrários a proposição, por considera-la inadequada e lesiva ao esporte gaúcho e ao lazer da população de Porto Alegre.

Em 1963, na passagem entre os governos de Leonel de Moura Brizola e de Ildo Meneguetti, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul, constituiu o Centro Estadual de Treinamento Esportivo (CETE), desapropriando a área de terras no Bairro Menino Deus que pertencia à Metalúrgica Favareto.  Com a missão de: (i) incentivar e promover a iniciação esportiva de crianças e adolescentes e a prática de diversas modalidades esportivas; (ii) preparar atletas de alto rendimento esportivo, tanto em âmbito escolar, quanto em âmbito comunitário; (iii) servir de local para a pesquisa científica no âmbito da área de conhecimento Educação Física, e; (iv) com muita propriedade, servir de espaço de lazer para a população da cidade de Porto Alegre. Para alcançar esses fins, recebeu ao longo da história pesados investimentos públicos, procedentes do orçamento do estado e da união. Recentemente, é preciso lembrar, a atual pista de atletismo foi reconstruída com um aporte significativo de recursos do Ministério de Esporte.

Inicialmente estava ligado ao Departamento Estadual de Educação Física da Secretaria Estadual de Educação (DED/SEC), homônimo de um órgão da administração pública federal que se encarregava de incentivar o esporte e a educação física em todo território nacional. De lá para cá, condicionado por políticas públicas de estado e de governo o CETE vem cumprindo sua missão, ora com mais intensidade, ora com menos. Importa dizer que por seus ginásios, pista e demais instalações passaram milhares de jovens estudantes. Entre os atletas de alto rendimento que tiveram sua iniciação esportiva no CETE estão Daiane dos Santos (Ginástica Artística), João Derly (Judô) e Paulo André Julowiski da Silva (Voleibol). Sem contar, que em diferentes horários o local recebe corredores anônimos que fazem do local espaço de lazer e convivência esportiva.

Rapidamente, cabe destacar que ao longo dos anos, a área em questão tem sido alvo de ocupações e ações predatórias de agentes públicos e privados, com pouca reação das administrações públicas estaduais.

Ora, fazer e financiar o esporte e lazer na cidade é obrigação dos agentes públicos e privados, requer significativos recursos físicos, humanos e financeiros, ambiente apropriado e espaço físico adequado, bem conservado, funcionalmente organizado e tecnicamente em condições de uso. É comum a sociedade protestar sobre fracos resultados esportivos estaduais e/ou nacionais e pelo aumento dos índices de violência juvenil nas cidades, porém muitas vezes esquece de pensar que resultados esportivos e segurança cidadã são resultados de investimentos de longo prazo, alguns invisíveis à primeira vista, como a existência de locais adequados e recursos humanos capacitados.

Por outro lado, existe a área onde estão atualmente os escombros do “Ginásio da Brigada” (Obra do patrimônio cultural da cidade, construído em 100 dias para as competições esportivas dos Jogos Mundiais Universitários realizados em 1963, na cidade de Porto Alegre, a “Universíade de 63”), contígua a atual sede do corpo de bombeiros. A Engenharia, ao nosso ver, tem soluções para tudo. Porque não um projeto que reconstrua o patrimônio histórico e ao mesmo tempo dê a funcionalidade requerida a atual sede do corpo de bombeiros? Seria uma questão de prioridade político-administrativa? Compromisso com a cidade?

Assim, pelas razões acima expostas, a entidade que represento, manifesta sua contrariedade a proposição que pretende transferir a sede do corpo de bombeiros para a área do Centro Estadual de Treinamento Esportivo.

Sem mais para o momento.
Atenciosamente

Vicente Molina Neto
Presidente do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte

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