Em
permanente debate, escrever sobre a educação sempre nos leva a tentação de
escrever sobre resultados, condições de trabalho, salário dos professores. Mas
será que podemos iniciar assim um ano que começou com a trágica morte de
duzentos e quarenta e um jovens universitários, no momento auge de seu
itinerário educativo, de sua juventude e energia, de seus amores e tessitura
social?
O
que evidencia aquele terrível episódio? No mínimo, a irresponsabilidade com que
tratamos as políticas públicas que atendem jovens, crianças, adolescentes:
adultos acostumados à política do jeitinho, à frouxidão na aplicação das leis,
à falta de seriedade com as responsabilidades, ao jogo de empurra que justifica
tudo, não explica e não resolve.
A dor daquelas famílias, o luto de um estado
inteiro, a comoção que correu o mundo, a nossa sensação de espanto e
inconformidade, não podem ir cessando aos poucos. Elas precisam se transformar
em ações que impactem nossa cultura, nossa formação, para além da fiscalização
e do planejamento sério das políticas públicas.
A
escola não pode tudo, mas pode muito, afinal quase todos os adultos que cuidam
da vida passaram pela escola e agora a grande maioria das crianças a frequentam
diariamente e quiçá, grande parte dos adolescentes e jovens.
As
mortes, causadas pelo modo como nos portamos não nos dá uma pista de que a
forma de ser é tão ou mais importante que o conteúdo? E que o conteúdo – a produção daquele gás
fatal, na química, por exemplo – faz sentido se não o apartamos da vida, se for
instrumento para compreendê-la?
Se
acrescentarmos ao descaso de gestores e donos de empreendimentos – evidenciados
nas fiscalizações desencadeadas a partir da dor de Santa Maria - a
agressividade cotidiana no trânsito, nas relações, o descompromisso com o lixo,
o desperdício de água, a impaciência com a infância, com a diferença, a
opressão da mulher... Uma pergunta se impõe: quem somos nós, se a vida não é
importante?
Aprender
a se importar, a medir as palavras para não magoar, os atos para não ferir, o
orgulho para não humilhar, aprender o cuidado com a natureza, a escolher o
alimento para não adoecer, aprender a dialogar correndo o risco de mudar, a
participar, decidir coletivamente e respeitar o decidido - tem que ter lugar na
escola – porque dá conta dos sujeitos que nos tornamos!
Se
estes forem os méritos identificados na escola, fará sentido ter competência
para passar em testes, ganhar concursos, entrar na Universidade, comprar um
carro, ganhar eleições – pois isto acontece na vida, que então conseguiremos
proteger!
Sofia Cavedon - Vereadora do PT da Capital
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