Neste
terceiro mandato de vereadora que chega ao final, enfrentamos a realização
agressiva do modelo que já chegara em Porto Alegre nas primeiras medidas do
primeiro governo Fogaça, do fenômeno chamado gentrificação ou instalação do
modelo cidades-empresas americano – embalado agora pelo grande negócio “Copa do
Mundo”.
Trata-se do
“aburguesamento” de áreas das grandes metrópoles que são tradicionalmente
ocupadas pelos pobres, com a consequente expulsão dessas populações mais
carentes, resultando na valorização imobiliária desses espaços.
Vamos
enxergar este processo nas concessões de áreas públicas à exploração privada,
como o Araújo Vianna, os quilômetros do Cais do Porto, o do terminal Rui
Barbosa que já confinou ali os camelôs proibidos de estarem nas ruas do centro
da cidade – dando lugar a automóveis e negócios, na adoção privada e tentativa
de cerca-mento das praças e parques; na proibição das carroças de circularem nas
áreas nobres, a proibição da Feira da Economia Solidária ou a Feira do
Artesanato de acontecerem no Largo Glênio Peres, etc. Neste caminho está a
tentativa frustrada da venda do Morro Santa Tereza e de construção do Pontal do
Estaleiro, onde a organização das comunidades combinada com o Movimento de
resistência à privatização da Orla e trabalho de parlamentares de esquerda,
constituíram-se em vitórias da resistência ao modelo.
De caráter
excludente e privatizador, este processo combina farta distribuição do direito
de construir mais nas áreas mais nobres com segregação dos pobres nas áreas
mais longínquas, carentes de infraestrutura, de serviços públicos, de acesso à
renda.
Um dos
resultados é que nossa capital é a 9ª cidade mais violenta do país. Banidos
como ratos indesejáveis, eles se organizam para assaltarem as “despensas”
fartas, sem pudor, exibidas nas telas de TV que chegam nos mais miseráveis
casebres.
E milhares
destas moradias precárias coexistem com grandes projetos de modernização e de
entretenimento financiados por fundos públicos, alavancados pela iniciativa
privada. Emblemática disto é a paisagem do entorno do complexo Arena do Grêmio.
Associados
aos políticos, ao grande capital e aos promotores culturais, os planejadores
urbanos, agora planejadores - empreendedores, tornaram-se peças-chave dessa
dinâmica - analisa Otília Arantes, in A Cidade do Pensamento Único:
Desmanchando Consensos.
Assim que
muitas leis foram encaminhadas e apreciadas na Câmara de Vereadores e
Assembleia Legislativa que promoveram estes incentivos, impermeáveis a qualquer
mecanismo de garantia de retorno ao interesse público geral ou mesmo
contrapartidas mitigadoras dos impactos urbanos. Estes todos, via de regra, tem
ficado para o estado, em nome do “consenso do desenvolvimento”.
Combatemos
esta imoralidade em todas estas iniciativas, emendamos, mobilizamos, votamos
contra, denunciamos no Ministério Público e de Contas.
Na
presidência da Câmara, baixamos nas comunidades para dar visibilidade a esta
opção que abandona cruelmente o atendimento das condições básicas de vida
digna, subimos nos ônibus, circulamos nas escolas, movimentamos a cultura
popular e a produção local – “contrapondo-se ao culturalismo de mercado” - para
criar consciência do processo em curso, para empoderar a cidadania, apoiar a
resistência.
Apesar de
todo este combate, empresto as palavras de David Harvey (geógrafo britânico,
com foco na problemática urbana), para afirmar que também aqui “uma nova e
radical elite financeira toma conta da cidade liderando uma coalizão
pró-crescimento que habilmente manipula o apoio público e combina fundos
públicos e privados para promover uma urbanização comercial em larga escala”.
Os
beneficiados e interessados nesta política financiaram larga e generosamente seus
representantes na disputa eleitoral e obtiveram vantajosa vitória na combinação
disto com o “consenso” criado em torno do crescimento a qualquer preço pela
aliança entre os gestores e seu apoio político na Câmara Municipal e Assembleia
Legislativa, as incorporadoras, os corretores, banqueiros e os chamados por
Harvey de “coadjuvantes igualmente interessados e poderosos”: a mídia, as
empresas esportivas, universidades, os políticos, as câmaras de comércio,
etc...
A reeleição
do nosso mandato, no entanto, tem o compromisso de estar na oposição disto,
fortalecendo o movimento de reação que se organiza desde os bairros populares à
classe média critica que percebe o destino nefasto de uma cidade que não
consegue construir paz e sustentabilidade, fruição e fluidez, se continuar
sendo um grande negócio a serviço da acumulação de riquezas e privilégios.
Sofia
Cavedon (PT-PoA)
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