terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Da alma do Litoral Norte

Há dois anos tenho uma casinha na praia de Cidreira. Lugar aonde aos poucos vamos imprimindo nosso jeito, onde memórias de descanso, leituras, pescaria, caminhadas, passeios de bicicleta, vento frio, aconchego, grama, flores, afetos... vai nos mostrando o privilégio de estar à beira do mar! Do mar do Rio Grande do Sul. Mar chamado agressivo, cor de algas chamada suja, vento forte, chamado Nordestão, praia dos ”pelados” e de tantas piadas depreciativas!  

Conheci o mar aos 17 anos, outros o conheceram na Lua de Mel, nas colônias de férias da faculdade, da empresa, do sindicato. Praia era para uma parcela muito pequena da população. Vivemos em tempos mais acessíveis, de mais fácil comunicação e deslocamento, talvez por isso, se valoriza menos tão precioso habitat! Ou talvez porque os de maior poder aquisitivo deslocaram-se para praias de areia mais brancas e tépidas, e os que aqui ficaram fecham-se em condomínios com piscinas, segurança, áreas de lazer.

Ao mesmo tempo em que emociona ver meninos e meninas, suas mães, seus avós encharcando-se de mar, de areia, de sol, entristece ver que os gestores de nossas praias ainda não entenderam pelo que são responsáveis! Não entenderam que a preservação ambiental é sua principal riqueza e o que leva as pessoas até lá! Que há um equilíbrio a ser respeitado: o necessário espaço entre o mar e construções, para a boa convivência com as marés, a maresia, as “ressacas”; as dunas, moradia de invisíveis animais e plantas; a vida dos pescadores e sua relação de sobrevivência com o mar; a vida dos moradores locais e suas necessidades para além da época do veraneio.

É impensável que num lugar aonde quem vai se despe, buscando o contato com a natureza, não haja separação de lixo! Pessoas que já o fazem em suas cidades de moradia, sofrem ao terem que misturar papéis e latinhas com restos de frutas! Lixo separado que poderia gerar renda – tão necessária aos moradores das praias, cuja economia ativa-se apenas nestes dois meses - e preservar a natureza! Num lugar onde vamos para andar descalços e banhar-se, é impensável água suja e contaminada correr na areia para o mar! Que não tenha investimento em preservação e às vezes, sequer lata de lixo!

“A única maneira de teres sensações novas é construíres-te uma alma nova” afirma Fernando Pessoa.  As coisas são como as sentimos. É inútil o esforço de querer sentir outras coisas, sem sentir de outra maneira e sentir de outra maneira sem mudar de alma, diz ele. Se sentirmos as praias do Litoral Norte a partir de sua riqueza e não de seus “supostos” defeitos, da alegria das gentes à beira mar, devolveremos a elas sua verdadeira alma!  “Muda de alma. Como? Descobre-tu”, provoca o Poeta.

Sofia Cavedon – Vereadora do PT/PoA


Porto Alegre, 14 de fevereiro de 2012.

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