Há dois anos tenho uma casinha na
praia de Cidreira. Lugar aonde aos poucos vamos imprimindo nosso jeito, onde
memórias de descanso, leituras, pescaria, caminhadas, passeios de bicicleta,
vento frio, aconchego, grama, flores, afetos... vai nos mostrando o privilégio
de estar à beira do mar! Do mar do Rio Grande do Sul. Mar chamado agressivo,
cor de algas chamada suja, vento forte, chamado Nordestão, praia dos ”pelados”
e de tantas piadas depreciativas!
Conheci o mar aos 17 anos, outros o conheceram na Lua de Mel, nas
colônias de férias da faculdade, da empresa, do sindicato. Praia era para uma
parcela muito pequena da população. Vivemos em tempos mais acessíveis, de mais
fácil comunicação e deslocamento, talvez por isso, se valoriza menos tão
precioso habitat! Ou talvez porque os de maior poder aquisitivo deslocaram-se
para praias de areia mais brancas e tépidas, e os que aqui ficaram fecham-se em
condomínios com piscinas, segurança, áreas de lazer.
Ao mesmo tempo em que emociona ver meninos e meninas, suas mães, seus
avós encharcando-se de mar, de areia, de sol, entristece ver que os gestores de
nossas praias ainda não entenderam pelo que são responsáveis! Não entenderam
que a preservação ambiental é sua principal riqueza e o que leva as pessoas até
lá! Que há um equilíbrio a ser respeitado: o necessário espaço entre o mar e
construções, para a boa convivência com as marés, a maresia, as “ressacas”; as
dunas, moradia de invisíveis animais e plantas; a vida dos pescadores e sua
relação de sobrevivência com o mar; a vida dos moradores locais e suas
necessidades para além da época do veraneio.
É impensável que num lugar aonde quem vai se despe, buscando o contato
com a natureza, não haja separação de lixo! Pessoas que já o fazem em suas
cidades de moradia, sofrem ao terem que misturar papéis e latinhas com restos
de frutas! Lixo separado que poderia gerar renda – tão necessária aos moradores
das praias, cuja economia ativa-se apenas nestes dois meses - e preservar a
natureza! Num lugar onde vamos para andar descalços e banhar-se, é impensável
água suja e contaminada correr na areia para o mar! Que não tenha investimento
em preservação e às vezes, sequer lata de lixo!
“A única maneira de teres sensações novas é
construíres-te uma alma nova” afirma Fernando Pessoa.
As coisas são como as sentimos. É inútil o esforço de querer sentir
outras coisas, sem sentir de outra maneira e sentir de outra maneira sem mudar
de alma, diz ele. Se sentirmos as praias do Litoral Norte a partir de sua
riqueza e não de seus “supostos” defeitos, da alegria das gentes à beira mar,
devolveremos a elas sua verdadeira alma! “Muda de alma. Como? Descobre-tu”, provoca o
Poeta.
Sofia Cavedon – Vereadora do PT/PoA
Porto Alegre, 14 de fevereiro de 2012.
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