Nos
poucos dias à frente da Prefeitura Municipal, momentos em que ficam aguçados
meus sentidos, aumentado ainda mais o senso de responsabilidade com o mandato
concedido pelo povo, são como se tudo se tornasse urgente e contundente.
Desta
vez, a Vila liberdade pediu socorro. Desta vez, não, mais uma vez! Ciente de
que uma das pautas era a falta de água, chamei o DMAE e fomos visitá-la.
Seguindo o “mangueirão”, como o fio de Ariadne, fomos entrando no labirinto
inescrutável da capacidade de sobrevivência humana.
Nos
ossos, na pele, na memória, na consciência, carregamos as imagens da sempre
surpreendente disposição para brincar das crianças, abstraindo o entorno: se há
uma tabuinha no meio do lodo, ali elas giram o pião. Se há um canto seco na
casa, cercado de roupas empilhadas, ali elas viram cambalhotas. Se há uma
televisão na cômoda que escapou das goteiras, em frente a ela viajam, brincam,
participam da vida que as imagens e sons apresentam.
O
“mangueirão” nos leva a incontáveis maneiras de lavar e secar roupas que
valorosas mulheres teimam em fazer, sem uma nesga de sol, em exíguos espaços.
Pelos acessos estreitos pisamos no esgoto e no barro, driblados com tapetes
velhos, lixo, tábuas, mas só vamos enxergar a verdadeira dimensão desta umidade
e contaminação quando espiamos embaixo dos assoalhos – de quem os tem – e ali
há muito mais!
Era
sábado pela manhã e todos os adultos daquele labirinto estavam envolvidos na
luta pela sobrevivência. Em muitas casas, só as crianças nos espiavam. Élida, a
líder comunitária que nos guiava pelos vestígios do mangueirão, em cada casa,
para a assembleia de moradores que aconteceria na segunda-feira, onde mais uma
vez, avaliarão os passos para a conquista da urbanização, da moradia digna, do
acesso à água limpa, ao solo seco, à luz elétrica para o tão sonhado banho
quente.
“A
palavra arrasta o povo” dizia Nejar, a certeza dos direitos naquela Vila que
chamaram Liberdade, arrasta a esperança que eles mantem viva com a luta. Lá,
eles vencem um Minotauro por dia, o difícil é sair do labirinto da absoluta
falta de investimento, da desigualdade perpetuada pela materialidade da vida.
O
dístico “minha casa, minha vida” nunca ganhou tanta significação, tanta
urgência, tanta denúncia. É o sonho que faz com que o fio da luta não se parta
e leve finalmente à saída do labirinto. O insaciável Minotauro derrotado por
Teseu, com suas novas faces contemporâneas e sua capacidade de reinvenção, não
está assombrando só na Liberdade! Terá que ser derrotado pela coragem e teimosia
dos que não se acomodam apenas alimentando o monstro!
Sofia Cavedon - Vereadora PT/PoA
28
de junho de 2011
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