Olhada de cima, afastada dos
barulhos, das falas, dos odores da sua gente, a cidade se mostra exuberante,
sincronizada, equilibrada - entre morros e verde, construções e água. Parece
dominável, previsível, apesar de inquieta e sestrosa. Parece, lá do alto, que
ela não precisa de governo, anda sozinha, autônoma e inteligente.
Apurado o olho, aberto pelo
conhecimento atento de quem passa o dia lhe analisando - seja o repórter
cuidando do trânsito, seja o gestor que o monitora, ajusta, repensa, Porto
Alegre se mostra em mutação, insuficiente sozinha, exigente de mediações,
intervenções, cuidado, soluções criativas.
Andando nas comunidades mais pobres,
a cidade se mostra na dureza da vida de quem não tem recursos: muitos rostos,
corpos e sonhos convivem com lixo, ratos, esgoto, água irregular, luz fraca,
falta de perspectiva, violência. Ali não precisa apurar o olho, basta chegar e
a realidade salta, se desnuda. Ali, as deficiências da política pública são
mais dramáticas, mas vão atingir de uma maneira ou de outra, a cidade mais organizada,
as gentes mais aquinhoadas.
É assim a trajetória do lixo: da
“sanga” circundada por moradias em risco às calçadas onde andam os mais finos
sapatos: derramado, misturado, juntando moscas, boiando no Dilúvio, entupindo
as bocas de lobo. Jogando na nossa cara que consumimos mais, descartamos mais
ainda não sabemos o que fazer com isto! As chuvaradas expuseram mais uma vez
que, sem mudanças, não haverá orçamento e nem pessoal que consiga vencer o
colapso que nós mesmos produzimos!
Muitos já enxergam, denunciam,
ligam, publicam sua indignação! De seus representantes esperam a ativação da
consciência coletiva e a eficiência do serviço. Precisamos mudar o modelo e a
cultura. E só acontecerá no diálogo
permanente com os cidadãos, na educação ambiental desde a escola, a rua, o
bairro e na transparência, eficiência e criatividade da política pública!
Precisamos melhorar juntos: a cidade
e seu governo. Por que não transformar o lixo orgânico em energia, o resto de
galhos e folhas em composto orgânico? Por que não, o monitoramento em tempo
real da coleta do lixo, do deslocamento dos ônibus, da tramitação de demandas,
estar disponível para o acompanhamento do cidadão em qualquer computador, num
portal de transparência dos serviços da cidade?
A cidadania de Porto Alegre está
pronta para isto, aliás, está exigindo. Aqui não se é só de reclamar, as
pessoas aprenderam a participar. Seu Astélio, da Associação de Moradores do
Bairro Ipanema e Seu Luis da Vila São Pedro, a Josina da Escola Aberta, a Tamar
da Creche GEMAES, o Juramar da Associação dos Ilheiros Ecológicos, a Anita da
Vila Pelin, o Nego Caio e Summer DJ da Bom Jesus, todos estes e milhares que
poderiam ser listados, tomam iniciativas, organizam a comunidade, propõem
parcerias, querem cuidar do seu lugar e de sua gente. Mas precisam de respostas
e construção conjunta com seu governo!
Junto com a COPA, o CAIS e suas
grandes novidades, Porto Alegre quer soluções para as questões básicas para a
qualidade de vida de quem aqui vive, consciente que participa dos destinos da
vida do planeta! Para isto, a cada real investido em cimento, precisamos de, no
mínimo dez investidos em educação e cultura!
Nós, que já influenciamos o mundo
com o Orçamento Participativo, reinventando a democracia, podemos ser ousados e
mostrar que outra vida nas cidades é possível: sustentável, de qualidade,
segura e saudável para todos!
Vereadora Sofia Cavedon
Presidente da Câmara Municipal de
Porto Alegre
19 de janeiro de 2011
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