Sofia Cavedon[1]
Maria José Vasconcelos[2]
A educação tem sentido
porque mulheres e homens aprenderam que é aprendendo que se fazem e se refazem,
porque mulheres e homens puderam se assumir como seres capazes de saber, de
saber que sabem, de saber que não sabem. Paulo Freire
Este trabalho propõe-se a relatar o projeto Caravana das
Boas Práticas Pedagógicas, iniciado em 2011 pela Câmara Municipal de Porto
Alegre, em parceria com a Editoria de Ensino do jornal Correio do Povo, com o
objetivo de conhecer, registrar e socializar práticas pedagógicas desenvolvidas
por escolas públicas municipais e estaduais do Rio Grande do Sul. O projeto
nasceu do compromisso do Legislativo com o direito à educação e de sua busca
permanente de sintonia com as comunidades, a fim de melhor avaliar e propor
iniciativas legislativas, bem como acompanhar a execução desta política pública
na cidade.
O projeto foi registrado e compartilhado
através de um caderno, vídeos e uma mostra de trabalhos, que produziram debates
e circulação em 2012; e reinicia, neste ano de 2013, com visitações da Caravana
a comunidades escolares. Tomando Paulo Freire como uma referência, a Caravana
das Boas Práticas Pedagógicas tem a intenção de desafiar os professores para
além do relato, de modo a fazerem a reflexão teórica e socializarem suas
vivências e saberes num seminário de compartilhamento do currículo que revelam.
Para tanto, o projeto Caravana se realiza a
partir de visitações de vereadores e vereadoras a escolas, para conhecer
projetos indicados pelas mesmas, indo ao encontro de alunos e professores no
seu espaço de práxis. Escuta professores e alunos envolvidos; realiza registros
em vídeo e fotografia e divulga o material na TV Câmara, nas redes sociais e no
jornal regional. Em 2012, o trabalho culminou com uma exposição na Câmara
Municipal e com o registro em um caderno, que foi distribuído aos alunos e
famílias envolvidas, bem como a escolas públicas da cidade e pelo Estado. Além
disso, gerou o debate, na Feira do Livro de Porto Alegre sobre o que
caracteriza uma boa prática pedagógica.
Este processo caracterizou-se como uma
experiência do diálogo freireanamente exercido, valorizando diferentes saberes
ao desencadear um movimento de ampliação das trocas e aproximação das escolas
entre si, proporcionando - a alunos, pais e professores – um panorama das
práticas pedagógicas em curso na cidade. Mobilizou a comunidade escolar para se
sentissem parte de um processo mais geral de construção da educação, alcançando
mais elementos para que construam sua própria opinião sobre a educação pública
em geral, e de sua escola em particular.
Mais do que se imagina, são muitas
as escolas que desenvolvem propostas de sucesso, no sentido de resultarem em
felicidade e aprendizagem em sala de aula. Atividades, aparentemente, comuns
são criadas, reinventadas e adaptadas, com um toque especialíssimo, que se
modifica e faz diferença, evidenciando a boniteza
de ensinar e de aprender, como nos diz Paulo Freire.
A partir de informes ou projetos que foram encaminhados por escolas públicas e privadas do RS e noticiados na página de Ensino do jornal Correio do Povo, foi possível acrescentar, ao grupo de escolas visitadas pela Câmara, mais práticas pedagógicas exitosas para divulgação no meio escolar. Sem deixar de expor problemas, críticas e diferentes versões de um fato, a Editoria procurou participar e cumprir seu papel profissional de oferecer e reconhecer o legítimo espaço que merecem notícias de sucessos cotidianos construídos na área educacional; e mostrou que da fonte de dificuldades também emergem buscas, alternativas, criatividade e felicidade no ato de educar. Compartilhar boas práticas em Educação, neste projeto, ampliou a potencialidade do trabalho a que se propôs o Legislativo da Capital, em especial fazendo-o circular por todo o Estado.
O trabalho permitiu encontrar, de
fato, na escola, um lugar de humanização. Talvez seja esta a melhor síntese que
se possa fazer a partir das visitas da Caravana Pedagógica e da análise dos
trabalhos de escolas publicados na página de Ensino do CP. Foram desveladas as
mais diversas formas de provocar o alargamento das fronteiras culturais e
humanas dos estudantes; e ver que professores, de fato, querem que as relações
sejam respeitosas e investem no espantamento, na reflexão e em práticas que
criem relações construtivas entre os alunos.
De verdade, com os recursos que
estiverem disponíveis e com todos os que conseguem buscar, escolas estimulam e
apostam na aprendizagem da leitura e da escrita; no desenvolvimento da lógica,
reflexão e construção de alternativas sustentáveis para o meio ambiente; e na
construção da identidade e do pertencimento.
É mágico e potente: elas trazem a literatura,
a música, às artes plásticas para dentro da sala de aula. Apresentam Romero
Brito, Van Gogh, Mário Quintana; ousam com o uso dos recursos tecnológicos,
como o cinema, a robótica, a fotografia; organizam bandas, jogos pedagógicos,
passeios, teatro, mostras de trabalho, hortas, curta-metragens; editam livros
das produções dos alunos; envolvem as famílias no processo de aprendizagem!
A Caravana mostrou diversas rupturas
com o modelo bancário de educação, aquele que classifica os que vencem e
punindo com notas baixas e repetência os que “não se esforçam”. E também expôs
práticas com centralidade no aluno, na sua singularidade; que valorizam as
relações solidárias na aprendizagem com o outro; e que acreditam no avanço
coletivo dos grupos.
Estamos reeditando o roteiro de
visitas convencidos de que esta circulação estimulou os envolvidos nesse
processo a se comprometem ainda mais com a necessidade de ampliar investimentos
na educação, pois as sementes e os brotos de uma escola emancipatória e de qualidade
estão aí, e prontos para crescer!
Neste ano de 2013, a nova edição da Caravana se volta
para o registro do próprio professor e alunos em diários; e na organização de
um seminário, que permita a reflexão de suas práticas no diálogo com os demais e
com a universidade, bem como o aprofundamento da fundamentação teórica que
subjaz as mesmas.
“A matriz da esperança é a mesma da
educabilidade do ser humano: o inacabamento de seu ser de que se tornou
consciente. Seria uma agressiva contradição se, inacabado e consciente de seu
inacabamento, o ser humano não se inserisse num permanente processo de
esperançosa busca.” Este processo é a educação, afirmava Freire
A Caravana soma-se a este processo
de busca e o fortalece, ao colocar o poder político e da mídia no seu
desvelamento e divulgação; tornando os mesmos, influenciados e
envolvidos na ação, mais comprometidos com a construção deste que é direito
fundamental da pessoa humana.
Porto
Alegre, 05 de julho de 2013.
Pós
graduada em Educação Física pré escolar e escolar pela UFRGS
Nenhum comentário:
Postar um comentário