terça-feira, 9 de julho de 2013

CARAVANA DAS BOAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: DESVELANDO E SOCIALIZANDO PRÁTICAS CURRICULARES EMANCIPATÓRIAS

Sofia Cavedon[1]
Maria José Vasconcelos[2]

A educação tem sentido porque mulheres e homens aprenderam que é aprendendo que se fazem e se refazem, porque mulheres e homens puderam se assumir como seres capazes de saber, de saber que sabem, de saber que não sabem. Paulo Freire

Este trabalho propõe-se a relatar o projeto Caravana das Boas Práticas Pedagógicas, iniciado em 2011 pela Câmara Municipal de Porto Alegre, em parceria com a Editoria de Ensino do jornal Correio do Povo, com o objetivo de conhecer, registrar e socializar práticas pedagógicas desenvolvidas por escolas públicas municipais e estaduais do Rio Grande do Sul. O projeto nasceu do compromisso do Legislativo com o direito à educação e de sua busca permanente de sintonia com as comunidades, a fim de melhor avaliar e propor iniciativas legislativas, bem como acompanhar a execução desta política pública na cidade.
            
O projeto foi registrado e compartilhado através de um caderno, vídeos e uma mostra de trabalhos, que produziram debates e circulação em 2012; e reinicia, neste ano de 2013, com visitações da Caravana a comunidades escolares. Tomando Paulo Freire como uma referência, a Caravana das Boas Práticas Pedagógicas tem a intenção de desafiar os professores para além do relato, de modo a fazerem a reflexão teórica e socializarem suas vivências e saberes num seminário de compartilhamento do currículo que revelam.

Para tanto, o projeto Caravana se realiza a partir de visitações de vereadores e vereadoras a escolas, para conhecer projetos indicados pelas mesmas, indo ao encontro de alunos e professores no seu espaço de práxis. Escuta professores e alunos envolvidos; realiza registros em vídeo e fotografia e divulga o material na TV Câmara, nas redes sociais e no jornal regional. Em 2012, o trabalho culminou com uma exposição na Câmara Municipal e com o registro em um caderno, que foi distribuído aos alunos e famílias envolvidas, bem como a escolas públicas da cidade e pelo Estado. Além disso, gerou o debate, na Feira do Livro de Porto Alegre sobre o que caracteriza uma boa prática pedagógica. 

Este processo caracterizou-se como uma experiência do diálogo freireanamente exercido, valorizando diferentes saberes ao desencadear um movimento de ampliação das trocas e aproximação das escolas entre si, proporcionando - a alunos, pais e professores – um panorama das práticas pedagógicas em curso na cidade. Mobilizou a comunidade escolar para se sentissem parte de um processo mais geral de construção da educação, alcançando mais elementos para que construam sua própria opinião sobre a educação pública em geral, e de sua escola em particular.

Mais do que se imagina, são muitas as escolas que desenvolvem propostas de sucesso, no sentido de resultarem em felicidade e aprendizagem em sala de aula. Atividades, aparentemente, comuns são criadas, reinventadas e adaptadas, com um toque especialíssimo, que se modifica e faz diferença, evidenciando a boniteza de ensinar e de aprender, como nos diz Paulo Freire.

A partir de informes ou projetos que foram encaminhados por escolas públicas e privadas do RS e noticiados na página de Ensino do jornal Correio do Povo, foi possível acrescentar, ao grupo de escolas visitadas pela Câmara, mais práticas pedagógicas exitosas para divulgação no meio escolar. Sem deixar de expor problemas, críticas e diferentes versões de um fato, a Editoria procurou participar e cumprir seu papel profissional de oferecer e reconhecer o legítimo espaço que merecem notícias de sucessos cotidianos construídos na área educacional; e mostrou que da fonte de dificuldades também emergem buscas, alternativas, criatividade e felicidade no ato de educar. Compartilhar boas práticas em Educação, neste projeto, ampliou a potencialidade do trabalho a que se propôs o Legislativo da Capital, em especial fazendo-o circular por todo o Estado.

O trabalho permitiu encontrar, de fato, na escola, um lugar de humanização. Talvez seja esta a melhor síntese que se possa fazer a partir das visitas da Caravana Pedagógica e da análise dos trabalhos de escolas publicados na página de Ensino do CP. Foram desveladas as mais diversas formas de provocar o alargamento das fronteiras culturais e humanas dos estudantes; e ver que professores, de fato, querem que as relações sejam respeitosas e investem no espantamento, na reflexão e em práticas que criem relações construtivas entre os alunos.

De verdade, com os recursos que estiverem disponíveis e com todos os que conseguem buscar, escolas estimulam e apostam na aprendizagem da leitura e da escrita; no desenvolvimento da lógica, reflexão e construção de alternativas sustentáveis para o meio ambiente; e na construção da identidade e do pertencimento.

É mágico e potente: elas trazem a literatura, a música, às artes plásticas para dentro da sala de aula. Apresentam Romero Brito, Van Gogh, Mário Quintana; ousam com o uso dos recursos tecnológicos, como o cinema, a robótica, a fotografia; organizam bandas, jogos pedagógicos, passeios, teatro, mostras de trabalho, hortas, curta-metragens; editam livros das produções dos alunos; envolvem as famílias no processo de aprendizagem!

A Caravana mostrou diversas rupturas com o modelo bancário de educação, aquele que classifica os que vencem e punindo com notas baixas e repetência os que “não se esforçam”. E também expôs práticas com centralidade no aluno, na sua singularidade; que valorizam as relações solidárias na aprendizagem com o outro; e que acreditam no avanço coletivo dos grupos.

Estamos reeditando o roteiro de visitas convencidos de que esta circulação estimulou os envolvidos nesse processo a se comprometem ainda mais com a necessidade de ampliar investimentos na educação, pois as sementes e os brotos de uma escola emancipatória e de qualidade estão aí, e prontos para crescer!

Neste ano de 2013, a nova edição da Caravana se volta para o registro do próprio professor e alunos em diários; e na organização de um seminário, que permita a reflexão de suas práticas no diálogo com os demais e com a universidade, bem como o aprofundamento da fundamentação teórica que subjaz as mesmas.

“A matriz da esperança é a mesma da educabilidade do ser humano: o inacabamento de seu ser de que se tornou consciente. Seria uma agressiva contradição se, inacabado e consciente de seu inacabamento, o ser humano não se inserisse num permanente processo de esperançosa busca.” Este processo é a educação, afirmava Freire

A Caravana soma-se a este processo de busca e o fortalece, ao colocar o poder político e da mídia no seu desvelamento e divulgação; tornando os mesmos, influenciados e envolvidos na ação, mais comprometidos com a construção deste que é direito fundamental da pessoa humana.

 Porto Alegre, 05 de julho de 2013.



[1]             Presidente da Comissão de educação da Câmara de Vereadores de Porto Alegre
                   Pós graduada em Educação Física pré escolar e escolar pela UFRGS
[2]             Editora de Ensino do jornal Correio do Povo
                  Pós graduada em Educação

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