“Olho o Mapa da cidade como quem
examinasse a anatomia de um corpo.
Sinto uma dor infinita, nas ruas de
Porto Alegre, onde jamais passarei” Mario Quintana
Em 2011 palmilhamos esta cidade,
imbuídos que estávamos da convicção de que, mais que examinar o Mapa, tínhamos
que tocar as nervuras deste corpo chamado cidade, se queríamos mais do que
fazer Leis, transformá-las em Direitos! E, nas mais inusitadas situações,
revelamos muito da tão humana condição de resistência, de resignação, de
indignação, de fibra e luta! Se o poeta, só de examinar sentiu uma dor
infinita, no tocar rostos, braços, ouvir as falas, sentir os odores, ver os em
espaços tão precários, impensáveis para a dignidade humana, quase que
experimentamos esta dor!
A vida no meio do lixo, a água que
não corre na torneira, os ratos que atormentam as noites, a luz que não se
mantém e mata, o esgoto que invade as casas, as casas cheias de frestas para o
frio, de frestas para os mosquitos, para as baratas, para o medo; a noite
passada na fila do posto de saúde, as horas passadas no aperto dos ônibus, a
convivência com a violência, o cansaço das mulheres, a infindável alegria das
crianças – tudo ali, nas linhas do mapa, antes notícia, casos isolados, hoje
parte de uma tessitura muito maior e complexa que imaginamos!
Chegamos ao final do ano impactados,
encharcados de urgência, com o nosso Mapa transformado pela antes não
dimensionada, deformação e adoecimento deste corpo, mas tocados pela
surpreendente teimosia da vida!
A responsabilidade de ocupar o
espaço de representação deste povo ficou muito mais densa diante deste novo
traçado e pintura da cidade de Porto Alegre! E muito mais desafiadora.
A consciência da injustiça torna
mais urgente a tarefa de compreender e enfrentar os instrumentos que mantém a desigualdade. Nos impõe
mobilizar consciências, mudar culturas e prioridades, desacomodar modos de
gestão, repensar as políticas públicas.
O que seria a Democracia, não fora
isto: o poder exercido para a dignidade humana, em nome principalmente de quem
ainda não a tem? A democracia, afirma Marilena Chauí, se apoia na noção de
direito, não de privilégio. É o processo político de criação de direitos, opera,
portanto, de forma aberta e permeável.
Uma Câmara aberta e permeável, que
reconhece o conflito, constitutivo da democracia, que dele gesta os direitos, é
a Câmara que procuramos instituir. É o Parlamento, tantas vezes fechado pelo
estado autoritário, devolvendo à cidade o poder de transformar seu mapa! Feliz
cidade em 2012!
Sofia Cavedon – Vereadora/PT e
Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre
Porto Alegre, 20 de dezembro de
2011.
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