segunda-feira, 2 de março de 2009

Testes no comando da Educação

“Tanto o que fazer! Livros que não se lêem, cartas que não se escrevem, línguas que não se aprendem,...cidadãos assinando papéis, papéis, papéis...” Tanto que fazer, diz Cecília Meireles, e fizemos apenas isto. E nunca soubemos quem éramos, nem para quê.

Cecília nos adverte para não perdermos o essencial da vida, e fazer educação é participar do processo de construção do humano. Isto traz implicações fundamentais: entender alunos e professores como sujeitos do processo ensino-aprendizagem; pais, funcionários e comunidade como partícipes da política pública desenvolvida na escola. Na contramão, a Secretária de Educação de Estado anuncia como medida para o início do ano letivo de 2009, que definirá o que será ensinado nas escolas, cabendo aos professores decidir como será dado.

Ela o faz em nome do necessário enfrentamento da questão da qualidade do ensino, que credita a bons desempenhos nos testes externos realizados pelos alunos. Numa visão simplista que os conteúdos dos testes ou não são dados nas escolas, ou são mal dados pelos professores, ela os determina e quer premiar o professor cujos alunos se saírem bem ao realizá-los. Esquece, no entanto, que se dependesse de parâmetros curriculares, controle externo e inspetoria, teríamos no Brasil excelente qualidade de ensino!

Frank Pignatelli, presidente do Departamento de Liderança Educacional de Nova York, nos alerta que os testes padronizados invadem a cultura escolar, dirigem o ensino e formam a idéia que os alunos fazem de si mesmos. Assim, o estado exerce uma violência simbólica causando baixa estima, não só intelectual como racial e étnica. No sentido inverso, a educação e a cultura deveriam alavancar a autoestima fornecendo elementos de autoreconhecimento ao cultivar uma identidade cultural forte e produtiva - como nos ajuda a identificar Kliksberg, sociólogo argentino.

Portanto, medidas que não apostem na possibilidade da escola construir seu próprio processo de produção do conhecimento, a partir da acolhida do aluno integral, da sua cultura, das forças vivas da sua comunidade - fatores essenciais para qualidade da educação - estão fadadas a falhar. Renunciar a isto é retirar o sentido da escola, uma vez que o resultado será a perpetuação das iniqüidades, do insucesso e abandono escolar, pelo mecanismo de seleção implacavelmente eficiente, tão propagado e aceito socialmente.

Sofia Cavedon – Vereadora PT - Porto Alegre, 02 de março de 2009.

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