domingo, 18 de janeiro de 2009

A Encenação do "fico" - Por Juremir Machado da Silva

Quarta-feira, 14 de Janeiro de 2009
TRANSCRIÇÃO DA COLUNA DE JUREMIR MACHADO NO CORREIO DO POVO.

O ano de 2009 promete: a secretária estadual de Educação, Mariza Abreu, declarou que para o bem geral do povo gaúcho fica no posto. Ufa! O Rio Grande do Sul não sabe se chora ou se ri. Na dúvida, fará as duas coisas ao mesmo tempo.
MarizaAbreu poderia ter virado um Jânio Quadros, que ameaçou sair para voltar nos braços do povo e acabou desempregado. Virou dom Pedro I. O nosso imperador por empréstimo de bobo nãotinha nada. O seu "fico", lançado em 9 de janeiro de 1822, não passou, segundo muitos historiadores, entre os quais o gaúcho Riopardense de Macedo, de uma encenação. A frase recitadapelo jovem Pedro fazia parte de uma jogada ensaiada: "Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico".
Ficou e, passada a independência do Brasil, fez tudo errado e da maneira mais autoritária possível. Pedro I ouvia pouco e falava muito. Tratou de se livrar dos que postulavam uma monarquia mais liberal e impôs a sua Constituição.
O "fico" de Pedro I foi dirigido a membros da elite que desejavam a sua permanência no Brasil, contrariando as ordens vindas de Portugal. Esses formadores de opinião repassaram a frase ao povo. José Clemente Pereira, o mesmo que , 20 anos depois daria todas as condições para Caxias esmagar a RevoluçãoFarroupilha, foi quem orquestrou a situação e conduziu a massa.
Mariza Abreu disse que só ficaria se a sociedade lhe desse apoio. Os comentaristas do diário oficial da província vibraram com a sua permanência e juraram que o tal apoio foi dado. Por quem? Não se viu um só professor, um só aluno, um só pai ou mãe clamando pelo "fico" da mais nova encarnação de dom Pedro I.
O apoio capaz de manter a secretária no cargo deve ter vindo das encarnações atuais de José Clemente Pereira. Afinal, nos tempos que correm, o magistério é o novo vilão da novela.
Os professores são a Flora do nosso Pedro I. Se não forem controlados, acabará o déficit zero e o final feliz sonhado pelo governo irá para o exílio.Os atrasados que se imaginam modernos já começaram com odiscurso anacrônico da caça às bruxas. O plano milagroso da nossa Pedro I consiste em aumentar a produtividade do magistério sem lhe aumentar ganhos. Faz sentido. Professor trabalha pouco e ganha muito.
Nada mais fácil do que segurar uma galera sossega da em escolas tranquilas, sempre bem aparelhadas e com todo o tempo do mundo remunerado para preparar as aulas e corrigir os trabalhos em casa. É o que eu sempre digo: professor só cria problema.
Tem ainda a questão dos inativos. O ideal para os administradores modernos é desvincular salários de ativos e inativos. Assim, os aposentados podem chafurdar na miséria e na defesagem salarial sem correções paternalistas. Quem mandou não terem poupado uma boa parte dos altos proventos auferidos quando estavam em atividade?
Nós professores, somos um bando de preguiçosos, bem pagos e com baixa produtividade. Ameaçamos constantemente o equilíbrio financeiro do Estado. Não damos retorno. Somos investimento a fundo perdido. Quer dizer, não somos investimento. Ainda bem que dona Pedro I vai nos outorgar uma carta de princípios rigorosa e exemplar.
Nisso tudo, descontados os radicalismos, uma coisa é certa: a imprensa régia ficará com Pedro I até o fim.

Escrito por Juremir Machado da Silva em sua coluna no Correio do Povo de 13 de janeiro de 2009, terça-feira, página 3.

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