quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Troféu Câmara Municipal para o Clube de Cultura

PROC. Nº 1569/10 - PR Nº 012/10

EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS

Submeto à consideração dos nobres pares Projeto de Resolução que objetiva a concessão do Troféu Câmara Municipal de Porto Alegre ao Clube de Cultura.

O Troféu Câmara Municipal de Porto Alegre foi instituído por meio da Resolução nº 2.083, de 7 de novembro de 2007, com a finalidade de homenagear as pessoas físicas ou jurídicas que tenham se destacado publicamente e contribuído para o desenvolvimento social, econômico ou humano da cidade de Porto Alegre, por suas ações em quaisquer áreas do conhecimento humano.

O Clube de Cultura nasceu da iniciativa de um grupo de judeus progressistas que desejavam criar um espaço no qual pudessem realizar atividades artísticas e culturais e que não encontravam acolhida nos lugares consagrados da Cidade. Fundaram, em 30 de maio de 1950, o Clube de Cultura. Contando com a colaboração de diversos artistas e intelectuais, o espaço logo se tornou uma das principais referências da cultura de Porto Alegre e, mais tarde, o símbolo da resistência artística contra a ditadura. Entre esses nomes estavam Graciliano Ramos, Jorge Amado, Barão de Itararé, Vinícius de Moraes, Elis Regina, Danúbio Gonçalves, Vasco Prado, P.F. Gastal, Jacob Koutzii, Carlos Gerbase, Jorge Furtado, Caio Fernando Abreu, Luciano Alabarse, Henrique Scliar, Carlos Scliar e Moacyr Scliar, entre outros.

Constituído, a princípio, como uma associação judaica, o grupo se organizou a fim de construir um espaço que pudesse dar conta de seu objetivo fundacional: criar uma associação de caráter cultural que exercesse e incentivasse o desenvolvimento das artes e letras, criando grupos teatrais, consagrando elementos esparsos de amadores de diferentes artes, como música, dança, pintura etc., proporcionando um clima adequado à emulação e ao estímulo para o aproveitamento máximo desses valores e favorecendo seu aprimoramento. Buscando tornar
possível esse ideal, alugaram uma pequena casa na Rua Ramiro Barcelos, na qual funcionou durante seus primeiros anos.

Ao percorrer as dependências do Clube, é impossível não se emocionar com a majestosa aura que emana das seis décadas de efervescência cultural. Inúmeros intelectuais e artistas colaboraram com o Clube. Realizaram palestras e exposições durante os anos 50: Graciliano Ramos, Jorge Amado, Aparício Torelli (Barão de Itararé), Carlos Scliar, Danúbio Gonçalves e Vasco Prado, entre outros. Como a modesta sede era insuficiente para abrigar suas atividades, os membros do Clube de Cultura iniciam uma campanha para concretizar o sonho da
sede própria, que incluía um auditório e salas para abrigar as diversas atividades.

Em 1958 o sonho se concretiza, passando a ser palco de inúmeras atividades e abrindo espaço aos novos talentos que surgiam, como Elis Regina. Grupos argentinos e uruguaios também se apresentam no novo auditório do Clube. Ainda nos anos 50, surge, na nova sede, o Clube de Cinema, idealizado pelo jornalista Paulo Fontoura Gastal. Muitas sessões seguidas de debates foram realizadas.

No início da década de 1960, o Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes passou a utilizar o espaço para montagem de espetáculos engajados como o Auto dos 99%. O Grupo de Teatro do Clube de Cultura apresentou peças de autores como Brecht e Sartre, além dos inéditos textos de Qorpo Santo. Em 1967, Vinícius de Morais, já cassado, lotou as dependências do Clube, com 600 pessoas proferindo palestra sobre cultura e formas de enfrentamento à ditadura.

Também são dignos de serem mencionados os eventos cinematográficos ocorridos nos anos 1970, dos quais participaram Jorge Furtado, Giba Assis Brasil e Carlos Gerbase, todos expoentes atuais do cinema brasileiro. Já nas décadas de 1980 e 1990, funcionou no Clube de Cultura a famosa Cooperativa de Músicos de Porto Alegre, constituída por um grupo de músicos que usufruíram o espaço para promover a música aqui produzida. Dessa geração, destacam-se Bebeto Alves, Gélson Oliveira, entre outros mais.

Devido ao teor contestatório contido nas peças e nas demais atividades realizadas, o Departamento de Ordem e Política Social – DOPS – passou a observar e averiguar frequentemente o local, no início da ditadura de 1964. Com isso, os sócios e espectadores foram deixando de frequentar o Clube. Mesmo enfrentando dificuldades, ancorado na resistência da comunidade, o Clube de Cultura manteve suas portas abertas e suas atividades ininterruptamente ao longo desses 60 anos. Atualmente, realiza palestras e debates sobre temas relevantes,
preocupando-se sempre com a saúde cultural da comunidade, e precisa de apoio para empreender as reformas necessárias na sua sede e poder retomar a vitalidade da efervescência cultural que sempre o caracterizou.

Por sua história, potencialidade e por ser um bem cultural precioso de nossa Cidade, é que submeto o presente Projeto de Resolução à aprovação desta Casa Legislativa.

Sala das Sessões, 15 de abril de 2010.

VEREADORA SOFIA CAVEDON.

Fonte: Site da CMPA.

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