domingo, 5 de abril de 2009

Homenagem a Zeca Moraes

Reproduzimos a seguir a correspondência que Herlon de Almeida encaminhou à jornalista Denise Nunes, do jornal Correio do Povo, sobre a vida e a obra de Zeca Moraes, falecido na última semana. Denise Nunes escreve hoje em sua coluna que é uma injustiça resumir a passagem de Zeca Moraes pela Secretaria de Desenvolvimento e Assuntos Internacionais (SEDAI) pelo episódio Ford. Saiba por que:

“Cara Denise, tudo bem? Morreu nosso amigo Zeca Moraes. E a ZH, mesmo nessa hora dura, não deixou de associar seu nome ao caso Ford. Coitado, levou essa marca até na morte. Mas o grande número de lideranças políticas e empresariais gaúchas, assim como uma multidão de amigos em seu velório e enterro, foram uma resposta a isso. Te escrevo apenas para marcar que o Zeca teve uma série de virtudes para Porto Alegre e para o desenvolvimento industrial gaúcho e brasileiro.

Na SMIC, foi ele quem deu dimensão de desenvolvimento econômico para uma secretaria de indústria e comércio, e foi ele quem por primeiro definiu e implantou um plano de abastecimento alimentar para a cidade. Dentre as ações que alcançaram essas dimensões estão a implantação do Portosol, das Feiras Modelo, a importante restauração do Mercado Público, política para artesanato e micro e pequenas empresas, entre tantas outras ações, todas parte integrante do PDI-Plano de Desenvolvimento Integrado de POA.

Na SEDAI, onde participei da equipe com companheiros como Clarice Castilhos, Onélio Santos, Alessandro Teixeira, César Rech, José Miguel Pretto, Carlos Paiva, Miguel da Costa Franco, Sérgio Kapron, José Carlos Ferreira Gomes, entre outros, foi na gestão do Zeca que se transformou em política pública uma série de programas e projetos inovadores que fizeram e fazem escola em nível nacional, entre os quais a Extensão Empresarial (desde 2004 no Governo Federal como Programa de Extensão Industrial Exportadora), as Redes de Cooperação (quantas dezenas ou centenas de redes de cooperação há no RS?), as ações de Economia Solidária, as Instituições Comunitárias de Crédito (que assim como o Portosol operam microcrédito), as mais de 50 Incubadoras Industriais implantadas, os SLPs - Sistemas Locais de Produção, hoje incorporados na vida gaúcha e brasileira, conhecidos e reconhecidos no Governo Federal e em diversos estados, inclusive no SEBRAE Nacional e em todas as unidades da federação como Arranjos Produtivos Locais, e os CGIs - Centros Gestores de Inovação, como o moveleiro e o calçadista.

Foi ele também que usou os incentivos fiscais de forma seletiva (e não da forma corriqueira que fizeram e fazem), para adensar SLPs/APLs apoiando empresas que resolvem gargalos produtivos, como a indústria de MDF dos Isdra em Glorinha, importantíssima para o setor moveleiro (até então o RS só importava MDF da Argentina, Chile e do Paraná). Ou no caso do frigorífico de suínos de Frederico Westphalen, que consolidou a suinocultura em uma região pobre. Foram do Zeca também as negociações que consolidaram o parque industrial da GM no RS (a própria GM reconhece, e executivos seus estavam no enterro dele). Ele realmente tinha a dimensão do que de fato era importante para o desenvolvimento econômico de um território, e dominava essa temática como poucos.

O Zeca era um formulador de mão cheia, mas como teve problemas de gestão, infelizmente, a marca que lhe imputaram foi a da decisão dos interesses econômicos de responsabilidade única e exclusiva da Ford, que com apoio do FHC e do Toninho Malvadeza, com a prorrogação oportunista do Programa Automotivo do Nordeste, pescaram a Ford do RS. Isso é que ficou nas costas do Zeca. Se você puder resgatar pelo menos a parte boa, eu e muitos amigos te agradecemos”.

Fonte: RS Urgente.

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