quinta-feira, 12 de março de 2009

Carta de uma professora estadual

Senhores deputados, senhoras deputadas:

Sou professora estadual desde 1992 e posso testemunhar o quanto tenho lutado pela causa do magistério público estadual. São anos e anos buscando respeito, dignidade, o mínimo necessário para subsistência de minha família, que depende financeiramente de mim. Hoje, meu salário é de 1600, 00 ( porque tenho o GD de Direção da Escola), mas no final do ano, encerra a gestão e voltarei para o meu salário de 750,00. O que o magistério quer dos senhores e das senhoras é a compreensão de que os professores pagaram sua "dívida" para com o Estado na medida em que recuperaram horas e dias letivos, fechando o ano de 2008. Hoje, é o Estado que deve aos professores.

Vamos recordar: a greve ocorreu de 14/11 a 28/11 de 2008. As Escolas, de 18 de cada mês até 27, 28 do mesmo mês, encaminham às CREs a efetividade dos professores. Mas, em novembro, algo inédito ocorreu. O desconto de salário realizado antes do mês trabalhado, como se houvesse uma "previsão" de quem estivesse faltando, antecipando o desconto. A folha de pagamento saiu dia 26/11 já com os descontos, sendo que algumas escolas, como a minha, que ainda nem havia entregue a efetividade. A SE faz um plantão para acelerar o processo de descontos, Comete erros graves, pois desconta de quem não fez grave e paga grevistas, sem descontar ós dias parados.

A Reflexão que foi feita na Escola com os colegas, foi a seguinte: - Como a SE desconta antes de trabalharmos todo o mês, pois, se quando há o ingresso de um novo servidor, esse profissional leva de 4 a 6 meses para receber o seu salário.?..e esse mesmo profissional, durante esses 4 a 6 meses, têm gastos com transporte e alimentação, etc.

Quero solicitar que reflitam sobre a importância política dessa votação. Estamos iniciando um ano letivo sem professores, com problemas sérios de insegurança nas escolas, com desestrutura física, sem pessoal de apoio pedagógico para refletir, criticar e fazer acontecer as mudanças propostas pela SE.

Não podemos ser desconsiderados profissionalmente! A comunidade escolar atendeu ao chamado, retornou às aulas, discutiu o calendário e a forma de retomar o ano letivo. Ou seja, essa mesma comunidade escolar também está sendo traída pelos senhores e pelas senhoras, à medida que não os senhores e as senhoras não cumprem o que votaram em dezembro, e hoje, voltam atrás, passando aos alunos e seus pais um péssimo exemplo a ser seguido: O exemplo de quem não honra com a palavra. A divergência, a pluralidade são legítimas dentro de uma discussão na CASA DO POVO. Mas para se buscar a resolução de problemas é necessário que se abra mão de ganhos individuais, e que se busque a unidade. E é na unidade, no campo das idéias, que o bem comum deve prevalecer sobre questões pontuais.

O veto da Governadora em relação ao pagamento das horas de greve, é de uma insensibilidade sem precedentes. Os senhores e as senhoras não podem permitir que o veto seja levado adiante. Essa matéria em especial, trata da dignidade dos servidores públicos estaduais, muito mais do que o dinheiro a ser ressarcido.

Desejo a todos e todas uma ótima sessão, E que o bom senso, a serenidade e a prudência estejam presentes convosco.

Lembrem-se de que cada um e cada uma já passou pelos bancos escolares e já recebeu dos professores o melhor que tinham para lhes dar...mas estamos sofrendo e cada vez mais, teremos menos a oferecer, por conta da desvalorização que sofremos, ano após ano.

A derrubada do veto poderá ser marcada como a manifestação do parlamento gaúcho ruma à valorização do magistério. Isso não seria voltar atrás, pelo contrário, é ser coerente com a palavra empenhada em dezembro por ocasião da primeira etapa dessa caminhada.

Obrigada
Abraço fraterno

Leila de Almeida Castillo Iabel - professora da rede publica estadual.

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