A matéria publicada na Revista Veja sobre a educação no Brasil chega à conclusão que o sistema é medíocre. Seria possível concordar se o principal motivo detectado pela mesma não fosse a dita “ideologização” da educação.
Todos sabemos que o problema da educação brasileira tem causas muito mais complexas - que passaram ao largo da análise da revista - que vão das péssimas condições de trabalho ao percentual do PIB investido em educação que, no patamar de 4% em que se encontra, fica muito aquém do necessário para a garantia de qualidade e de vagas suficientes para a educação básica.
Sabemos que a maioria das escolas com bibliotecas fechadas ou defasadas; sem orientadores e supervisores para organizar o debate do projeto pedagógico da escola e a construção de diálogo com os pais e as outras políticas públicas; sem a formação continuada que permite o planejamento e reflexão da prática - acabam por refletir no seu trabalho o empobrecimento da comunidade no seu entorno.
Mas a revista vai além: sustenta sua tese tratando de forma caricata as aulas supostamente assistidas de professores sérios, aplicados, muito respeitados por seus alunos e colegas como o professor Paulo Fioravanti do Colégio Anchieta. Resumir em poucas frases aulas de quase uma hora, distorcendo intenções e afirmativas, não é sério nem com os educadores, nem com as escolas implicadas.
Na mesma matéria, a revista contrapõe textos de livros didáticos com idéias claramente posicionadas ideologicamente, evidenciando que sua discordância é mesmo com o jeito como os conteúdos começam a serem tratados na escola: as diferentes versões da história passam a ser discutidas, as verdades são contestáveis, o conhecimento é tomado como provisório, datado e contextualizado. Tudo resultado da luta por democracia, liberdade e autonomia da escola. E única saída para um país que precisa superar seus graves problemas sociais com uma educação criativa, transformadora, problematizadora.
Talvez seja por isso que Paulo Freire foi tão desrespeitado pela mesma matéria. Reconhecido no mundo inteiro, incomodou os ditadores da época e pelo jeito ainda incomoda, com sua produção teórica e prática humanizadoras que inspiram a grande mudança educacional em curso no País.
Sofia Cavedon – Vereadora e Presidente da Comissão de Educação da Câmara Municipal de Porto Alegre
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