sábado, 5 de maio de 2018

Porto Alegre precisa da Carris pública - Por Sofia Cavedon*


A prefeitura vem alegando que a Empresa de Transporte Pública Carris vem dando prejuízo de cerca de 50 milhões por ano aos cofres públicos, que isto não se justifica e quer vendê-la à iniciativa privada.

Um caminho demais simplificado para um governo que se elegeu anunciando uma gestão moderna, eficaz e desburocratizante. Já levou seis meses para estabilizar uma equipe à frente da empresa, alongou de forma deletéria prazos para decidir sobre contratos de manutenção da frota e reposição de peças. Optou pela suspeição e assédio sobre os funcionários, revistas, falas públicas depreciativas, demissões por supostas “justas causas” em número nunca antes ocorrido, numa clara intenção de redução de quadro, resultando desastrosa a medida tanto pelo efeito negativo nos trabalhadores quanto pela reversão na justiça. O número cada vez maior de carros sem rodar, de perda de viagens e de passageiros só vem agravando a crise. Proposital? Se não for, um enorme atestado de incompetência.

A Carris cumpre uma papel muito importante no sistema de transporte, como instrumento do governante, na necessária regulação pública. Diferente da empresa privada, seu lucro não vai para os acionários proprietários e sim é reinvestido no sistema para inovar em qualidade e extensão do serviço. Foi assim por anos: a implementação de ar condicionado, de equipamentos e especificações de acessibilidade, de conforto sonoro e ergométrico, de limpeza, de atendimento cordial e especializado ao usuário, de criação de novas linhas como as transversais, de instituição do passe livre para estudantes ou para projetos sociais específicos. Evidente que para se manter o equilíbrio econômico com implementação desses custos novos, foi preciso um modelo de gestão que investia permanentemente em planejamento estratégico participativo, avaliação coletiva e periódica de desempenho por regiões, de estímulo e qualificação do corpo técnico e dos/as trabalhadores/as rodoviários/as.

O desequilíbrio deve corresponder a mudanças externas do sistema como a redução de passageiros e segunda passagem gratuita, mas há, no entanto, evidências de opções de gestão desencadeadoras do mesmo e incapazes de ler a realidade e dar novas respostas. Vimos apresentando todas essas evidências ao Ministério Público de Contas há alguns anos: investimento em construção de prédio administrativo e de escola infantil inacabados e abandonados, passando a parcelar compra de ônibus que antes era feita à vista. Aumento abusivo de Cargos Comissionados – de livre nomeação do prefeito – muitos incompetentes para função tão técnica, abandono da antecipação de reposição de peças, troca de linhas com empresas privadas, com possível prejuízo, falta de transparência no controle da Câmara de Compensação, na gestão e custos do plano de saúde dos trabalhadores, assim por diante. Auditorias apontaram problemas e outra está solicitada pelo MP de Contas. O novo governo assumiu conhecendo os apontamentos e, pouco fez para superá-los.

Apesar disso tudo, ainda agora, a análise da avaliação dos usuários nos sistemas da EPTC demonstra que é a empresa com menor número de queixas e que menos atrasa e é mais elogiada! De onde isso? Certamente do compromisso das trabalhadoras e trabalhadores, de seu empenho e esforço para realizar o trabalho e mostrar que é uma empresa viável e necessária!

Vender, se desfazer é muito fácil, para isso não precisa prefeito, basta um síndico de massa falida! Difícil, mas urgente e necessário, é mostrar seriedade e competência para garantir o direito de ir e vir - para estudar, trabalhar ou passear - com tarifa e qualidade adequadas, de milhares de cidadãos e cidadãs que tem direito à cidade!

*Vereadora e Líder da Bancada do PT na Câmara de Porto Alegre

Novembro/2017

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