segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Com que roupa?

Alguns políticos, na falta de algo mais interessante para fazer, ficam inventando “moda”, literalmente. Pois um vereador de Porto Alegre (e nem vou citar nome e partido por motivos óbvios) resolveu implicar com as roupas usadas por duas colegas do Legislativo. Me chamou a atenção o fato dele se sentir ofendido, ou sei lá o quê, por uma das vereadoras usar tênis e outra camiseta com jeans durante as sessões.

Indignado, sugeriu que as mulheres devem estar vestidas adequadamente em Plenário, com terninho, salto alto, camisa, enfim, passeio completo. Pode até ser que fique mais elegante, vá lá! Mas, sinceramente, faz alguma diferença? Se elas estivessem de minissaia, decotes ousados ou vestidos transparentes talvez se justificasse o mal estar sentido pelo cidadão. Ou, ao contrário, talvez ele nem reclamasse.

Mas a futilidade da observação, o protesto contra as colegas por estarem vestindo camisetas ou jeans, não me parece algo coerente, tendo em vista os freqüentes escândalos que rondam nossa classe política, ultimamente, em todas as esferas. Não seria mais sensato discutir temas de interesse público, soluções para os problemas da comunidade, se preocupar com a ética e os trabalhos legislativos, ao invés de ficar avacalhando com a roupa das mulheres só porque eles vestem terno e gravata?

Terninho muda alguma coisa, se a pessoa não desempenhar bem o cargo para qual foi eleita? Salto alto termina com a corrupção que existe neste país? Os crimes que mais atentam contra a nossa integridade como cidadãos que pagam religiosamente seus impostos não são os assim chamados de “colarinho branco”?

Sem qualquer julgamento quanto à reputação ou ao desempenho dos vereadores, neste caso, o que questiono é se essa é, realmente, uma “questão de ordem” fundamental para o bom andamento dos trabalhos da Casa. Internamente, quem sabe, poderiam flexibilizar o tipo de vestuário que cada um queira usar, sem exageros, claro, o que seria de bom senso. Obviamente, nenhuma dessas mulheres trabalharia de top e minissaia, assim como os homens não iriam de bermuda ao Plenário.

Com que direito, porém, alguém determina o quê você vai vestir? Cada um tem seu próprio estilo, e até pode obter dicas de algum profissional da área, se achar conveniente e necessário, dependendo da ocasião. O modo de vestir está intrínseco à personalidade de cada um, ainda que fora dos “ditos” padrões da moda ou de um olhar mais “crítico”, como o do vereador em questão.
De qualquer maneira, não me parece que camiseta, jeans e tênis tenham interferido na votação que elegeu as colegas vereadoras, hoje ocupando seus cargos e desempenhando, espera-se, dignamente suas funções legislativas. Aliás, talvez o que falte mesmo é um olhar menos superficial, como este do ilustríssimo vereador, para que a política e seus membros deixem de ser aparência e passem a servir realmente a que se propõem, que é o bem estar de todos os brasileiros.

Texto de: Jornalista Roseli Santos - (MTb 7571)

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