Companheiras e companheiros do Partido dos Trabalhadores,
Sou candidato a presidente nacional do PT.
Ao longo da minha militância atuei como Secretário de Governo da Prefeitura de São Paulo, na primeira vitória do PT na capital de São Paulo; fui vereador na capital paulista e sou deputado federal pelo PT de São Paulo. Acima de tudo, sou um militante do nosso partido.
Aprendi com Perseu Abramo os valores da ética, da democracia e do socialismo. Essa trilogia é sagrada e indissolúvel para mim. Entendo que essas três palavras fazem todo sentido para o PT após o seu 3º Congresso.
Ao lado do companheiro Patrus Ananias, defendi e foi aprovado por consenso pelo 3º Congresso, que o PT elabore o seu código de ética. Nossos inimigos tentaram nos destruir exatamente pelos grandes erros políticos que sofremos nesse terreno. Todo o ódio de classe contra Lula e os trabalhadores – ódio que nunca pode ganhar legitimidade e apoio social – apelou para essa grande falha que sofremos ao longo de 2005, na crise que se abateu sobre o PT. A direita brasileira, ciosa dos seus privilégios e sempre corrupta, arvorou-se em defensora de uma ética que nunca defendeu e, muito menos, praticou. Essa bandeira é nossa e está na nossa origem. Nossa memória está viva. A direita não vencerá! É papel do novo presidente do PT contribuir – mais do que isso, assumir! – o compromisso ético do Partido dos Trabalhadores.
Defendo uma revolução democrática em nosso país. Nosso primeiro governo e nossa reeleição, com o companheiro Lula à frente, apontam para essa grande transformação brasileira. Desenvolvimento, democracia participativa, construção de uma nova ordem internacional, distribuição de renda, de propriedade, de cultura e de poder, sustentabilidade ambiental, direitos às mulheres, negros, liberdade de orientação sexual, reconhecimentos dos direitos das comunidades indígenas, espaço e liberdade para a juventude, respeito e solidariedade entre gerações. É possível e devemos lutar por uma nação justa, democrática, no caminho do socialismo e em solidariedade com os povos sofridos do mundo, em especial nossos irmãos e irmãs latinoamericanos. Utopia? Como disse Galeano, a UTOPIA serve para caminhar sem perder o rumo!
Já se disse que uma grande questão só se coloca historicamente quando há forças sociais capazes de resolvê-la. Muito avançamos nesse segundo governo. É preciso avançar muito mais. Sobretudo na democracia. Reforma política, bloco político e social de esquerda, governo de alianças coerentes com seu programa e seu modo de governar. Participação popular!
E o papel do nosso partido? Cabe ao presidente do PT construir, junto com a direção nacional, um papel programático para o nosso partido, que é diferente de pedir audiência e diferente de pressionar. Um papel de construir diálogos e direção para as grandes disputas que transcorrem no país e no governo a partir de posições bem definidas. Esse papel precisa ser encampado e conduzido pelo novo presidente do PT.
Nossa bancada parlamentar precisa dessa referência construtiva, de diálogo e de atuação conjunta com a direção. Nosso grande eleitorado precisa perceber uma atuação coerente dos nossos parlamentares. Precisamos de um forte bloco parlamentar de esquerda e de alianças que sustentem efetivamente nosso governo. Nossa atuação parlamentar deve estar em sintonia com a opinião pública democrática e com os interesses sociais que representamos! Nossa governabilidade deve comportar uma atuação coerente e digna do PT no parlamento.
Uma nova relação com os movimentos sociais é fundamental. Sem ela o PT não conseguirá representar seu programa da revolução democrática e socialista para o Brasil. Além de encontros e de debates, é preciso enraizar o partido nos movimentos e dialogar com suas direções. E para isto é necessário que o partido retome as bandeiras sociais dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, da reforma política do Estado, recolocando a supremacia do público sobre o privado, do direito de todos à informação e ao conhecimento.
Ao PT cabe construir-se para dirigir suas conquistas institucionais e influir politicamente nos grandes temas nacionais, sem pretender substituir as lutas sociais e os grandes movimentos democráticos da sociedade brasileira, mas atuando em consonância com eles. Cabe discutir e construir posições com nossos companheiros no governo e nos movimentos sociais, com autonomia e com posições claras. Esse processo deve fazer parte do nosso cotidiano e não há porque transformá-lo em impasse, favor do governo ou concessões. Um presidente representativo de todo o PT, portador de um programa e articulado com os movimentos sociais, em conjunto com a direção nacional do partido, deve ter condições de exercer esse papel dirigente.
Para tudo isso é preciso ter um partido organizado, democrático, consciente, com posições definidas sobre as principais questões em disputa na luta política. É preciso reconstruir nossos laços com a imensa base de filiados, revalorizar a militância. Sem clientelismos, sem controles. Com democracia, formação política plural, participação em núcleos.
É preciso ter um presidente de todo o partido, não de uma “estrutura”, nem de uma fração ou de grupos de pressão. É preciso ser o presidente de um grande partido de militantes, filiados e filiadas.
Nosso partido tem uma história que está ligada com as grandes lutas do povo brasileiro.
Quero assumir um compromisso com cada filiado, com cada filiada. Um compromisso de recolocar nosso partido no caminho trilhado por uma geração de militantes que lutou contra a ditadura, que lutou pelas diretas, que se manteve na intransigente defesa dos interesses dos trabalhadores e trabalhadoras, que sustentaram a bandeira do socialismo e da democracia na ofensiva neoliberal, dos que sempre estiveram ao lado do povo.
Quero ser um presidente do PT que faça jus a essa grande história.
José Eduardo Cardozo
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